No pequeno distrito de Aracati, a 23 Km de Cataguases (por sua vez, distante 305 Km de Belo Horizonte), uma equipe de filmagem ocupa uma pequena casa à beira da ainda ativa linha férrea. O trem passa três a quatro vezes ao dia. Numa de suas idas e vindas, o veículo foi filmado pela equipe. "Ficou um plano muito lindo", diz alguém à cineasta Paula Gaitán.
É ela a coordenadora de tudo ali, no set de seu primeiro longa-metragem de ficção, "Sobre a Neblina". O Magazine acompanhou com exclusividade um dia de trabalho de Paula e companhia, na última sexta-feira. Todos estão na região de Cataguases desde o dia 12 de agosto e seguem por lá até 3 de setembro, quando virão a Belo Horizonte para fazerem cenas na serra do Curral.
"Sobre a Neblina" será totalmente filmado em Minas Gerais, com apoio da Energisa. O longa adapta o primeiro romance da escritora Christiane Tassis, natural de Governador Valadares. Tassis lançou o livro em 2006, após ganhar a Bolsa Flip de Criação Literária.
"Sempre achei o livro muito cinematográfico", conta Paula Gaitán, experiente em documentários. "A leitura de ‘Sobre a Neblina’ me deflagrou algo que é diferente dele mesmo".
Essa deflagração a qual alude a diretora foi o estopim para ela assumir que precisava se afastar da adaptação pura e simples da narrativa de Tassis e mergulhar em caminhos artísticos próprios. "O argumento foi uma inspiração, a partir de personagens exilados de seu próprio espaço. A neblina é a representação desse exílio", reflete Paula.
O livro conta a história de Henrique, fotógrafo doente e prestes a perder a memória. Na ânsia por não se deixar desaparecer pelo esquecimento, ele pede a uma jornalista (e ex-amante) que escreva sua biografia a partir de conversas com quatro mulheres com quem ele se relacionou no passado.
Com equipe reduzida (aproximadamente 30 pessoas) e orçamento igualmente mínimo de R$ 500 mil, Paula Gaitán tem levado a experiência de filmes miuras para um projeto que lhe demanda outros tipos de atenção - como lidar com atores, maquiadores e figurinistas. Mesmo assim, ela não vê tantas diferenças na sua forma de enxergar o que está criando.
"Eu já fazia ficção, como ‘Diário de Sintra’, mas insistem em chamar de documentário. Então muda pouca coisa", desabafa. E brinca: "Na verdade, me sinto mais confortável, sou paparicada de todos os lados e consigo almoçar na hora certa!".
Paula se cercou de profissionais de sua estima para realizar "Sobre a Neblina". Nascida em Paris em 1952 e radicada na América Latina (filha de um colombiano com uma brasileira, cresceu e fez carreira circulando no continente), ela sabe como reunir uma equipe "interglobal". O protagonista, Vincenzo Amato, é italiano (veja na página 2); o diretor de fotografia, Inti Briones, nasceu no Peru e se radicou no Chile, onde fez vários projetos com o recém-falecido Raúl Ruiz; e o produtor do filme, Eryk Rocha, é filho de Paula com o cineasta Glauber Rocha (1939-1981) e igualmente um apaixonado pela América Latina e pela mistura de povos e culturas.
Além disso, Paula segue fazendo filmes de forte feminilidade - como eram "Diário de Sintra", "Vida" e "Agreste" - e conta com diversas atrizes no elenco de "Sobre a Neblina", entre elas Simone Spoladore, Bel Garcia e Clara Choveaux.
*Publicado no jornal "O Tempo" no dia 26.8.2011
*Publicado no jornal "O Tempo" no dia 26.8.2011
**Na foto, de Igor Pontini, está a atriz Clara Choveaux
Um comentário:
Quando vai sair esse filme nos cinemas?
Deve ser muito legal realizar este trabalho de adaptar um livro e lidar com atores, figurinistas e algum fotografo
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