sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Vincenzo Amato e "Sobre a Neblina"

"Hoje não teve carrapatos", comemora Vincenzo Amato, protagonista de "Sobre a Neblina", o primeiro longa de ficção de Paula Gaitán. Num intervalo das filmagens, na sexta-feira passada, o ator italiano, ainda trajando vestes de seu personagem, conversou com o Magazine defronte à cabana de beira de estrada, perto de Cataguases, que serviu de cenário ao filme.

Vincenzo, 45, é conhecido de quem acompanha a produção de seu país. Encabeçou o elenco de "Respiro" (2002) e "Novo Mundo" (2006 - na foto), ambos dirigidos por Emanuele Crialese, um dos mais expressivos nomes do atual cinema italiano. Nos EUA, onde mora, fez outros trabalhos, como "Cadê os Morgan?" (2009).

É a primeira vinda de Vincenzo a Minas Gerais – mas não ao Brasil. "Estive outras três vezes, sempre no Rio de Janeiro", conta. Foi na capital carioca que ele jantou com Paula Gaitán, ocasião na qual ela apresentou ao ator o roteiro de "Sobre a Neblina", há dois anos. "Fiquei encantado com o que li. Já estava querendo filmar na América Latina, e esse projeto surgiu de maneira perfeita. Recusei dois trabalhos na Itália para estar aqui".

Ele não pretende ler o livro de Christiane Tassis enquanto filma. "O que me interessou foi a história daquele roteiro. É ela que vou viver, e acho que seria muito confuso enxergá-la como alguma outra coisa".

O português perfeito de Vincenzo Amato surpreende a qualquer interlocutor. Parece não haver palavra que ele não saiba, e mesmo seu sotaque fica abafado pela fluência na língua. Qual o segredo? "Música", responde, de imediato. "Aprendi português ouvindo cantores brasileiros. Caetano Veloso, por exemplo, é o maestro da minha vida. Ouço o tempo todo".

Igualmente fã de Noel Rosa, Vincenzo é embalado pelas canções do país também durante as criações em sua área de origem, as artes plásticas. Foi para desenvolver técnicas com ferro que ele se mudou para Nova York em 1993. Num puro acaso – saiu para fumar na escadaria do prédio onde morava –, conheceu Crialese, seu vizinho e então jovem cineasta em busca do primeiro projeto.

Perguntado qual o diretor italiano que mais lhe agrada, Vincenzo também é rápido e cita Vittorio De Sica (1901–1974). "É o melhor, não é? Sempre me emociona", assume.

Já animado com a paisagem e as pessoas que têm conhecido em Minas Gerais, Vincenzo se prepara para vir filmar nos arredores de Belo Horizonte. Será um ar novo depois de várias cenas em meio à natureza, incluindo serras, barrancos, lagoas e matagais. Na verdade, a capital mineira será só a base para que ele siga a locais como a serra do Curral, onde há cenas previstas.

A grande preocupação de Vincenzo, porém, é uma só: "Em Belo Horizonte tem carrapatos?". Ao ouvir um "não", ele fica aliviado.

*Publicado no jornal "O Tempo" no dia 26.8.2011

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