Muitas vezes relegado a segundo (ou terceiro) plano, o cinema de terror e suspense é colocado em devido e merecido status na 13ª edição do Festival do Rio, graças à retrospectiva da obra do diretor italiano Dario Argento. Numa parceria do evento com o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), mais de 20 filmes assinados pelo cultuado cineasta, entre trabalhos para cinema e TV, estão sendo exibidos até o dia 23 de outubro na capital carioca. Intitulada "Dario Argento e Seu Mundo de Horror", a mostra é inédita em terras brasileiras.
"Seus filmes se distinguem pelas várias sequências elaboradas com diversos planos inusitados, objetivando abordar os mistérios da mente humana e os transtornos propiciados pelo medo e angústia", escreve o curador, Mario Abbade, no material de divulgação da mostra. "Esse conceito é desenvolvido através de histórias policiais, políticas e até sobrenaturais, em que o sexo, o mistério e a violência são os responsáveis em conduzir a narrativa caracterizada pelo improvável".
Apesar de muitas vezes retratado como "o Hitchcock italiano" - o que o vincularia ao principal nome do gênero, Alfred Hitchcock (1899-1980) -, Argento tem formas bastante distintas de desenvolver seus filmes. Chamá-lo pelo nome do mestre inglês parece menos uma referência do que alguma tentativa torta de legitimar o italiano através de um nome reconhecível do grande público. Seu cinema tão particular pulsa, tem vida própria e sempre foi capaz de encantar a todos que se dispuseram ou puderam assisti-lo.
"A obra de Argento é essencial para se compreender o cinema de horror moderno", afirma o crítico Fernando V. Toste, um dos realizadores do RioFan - Festival Fantástico do Rio, que ocorre em julho. "Seus filmes não apenas amplificaram os níveis de choque e violência do cinema de horror de forma irreversível, mas elevaram a representação da violência a um nível de expressão poética nunca antes visto no gênero".
Origens. Filho do produtor italiano Salvatore Argento e da fotógrafa brasileira Elda Luxardo, Dario Argento nasceu em Roma há 71 anos. Iniciou a trajetória escrevendo críticas de cinema em jornais e depois se tornou roteirista. Seu principal trabalho nessa fase foi no monumental "Era uma Vez no Oeste" (1969), dirigido por Sergio Leone e o qual Argento escreveu junto com um também jovem Bernardo Bertolucci.
Em 1970, estreou como realizador, no desde sempre antológico "O Pássaro das Plumas de Cristal". Influenciado pelo conterrâneo Mario Bava (1914-1980), Argento renovou elementos do "giallo" (como são conhecidos, na Itália, filmes e livros policiais contendo histórias de mistério e assassinato) e chamou atenção pela sofisticação estética e visual. "O talento incomparável para a composição dos planos, a utilização inovadora das cores e elementos cênicos e o estilo de montagem inconfundível, de inspiração musical, são alguns dos traços que fazem de sua obra algo singular", enumera Fernando V. Toste.
Após "O Pássaro das Plumas de Cristal", seguiram-se diversos outros trabalhos, sendo os mais incensados "Prelúdio para Matar" (1975), "Suspiria" (1977) e "Phenomena" (1985). Seu trabalho mais recente, "Giallo - Reféns do Medo", foi lançado em 2009 - no Brasil, chegou apenas em DVD e Blu-ray. Argento está às voltas agora com as filmagens de "Drácula 3D", seu novo projeto. A ambição é recriar o seminal romance de Bram Stoker utilizando as novas possibilidades tecnológicas.
*Publicado em "O Tempo" no dia 9.10.2011
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