domingo, 16 de outubro de 2011

"Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios"

"O amor é sexualmente transmissível". A frase-síntese do romance de Marçal Aquino "Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios" pode muito bem ser acoplada também ao filme de Beto Brant e Renato Ciasca que adapta o livro às telas.

Aguardado desde quando o romance foi publicado pela editora Companhia das Letras, em 2005, o longa teve sua estreia mundial na noite de terça-feira, em sessão de gala da Première Brasil, no Festival do Rio. "Já não aguentávamos mais de vontade de mostrar esse trabalho, no qual estamos envolvidos há cinco anos", disse um empolgado Renato Ciasca, sobre o palco do Cine Odeon, na Cinelândia carioca. Parceiro habitual de Beto Brant desde os primeiros curtas de faculdade, Ciasca passou a assinar também a direção a partir de "Cão sem Dono" (2007), projeto anterior da dupla para cinema.

Ao microfone, também emocionado, Brant dedicou a sessão, de imediato, ao escritor Marçal Aquino. Ele é a terceira ponta de um triângulo que vem fazendo trajetória significativa nas telas desde 1997, quando se iniciou uma espécie de trinca "crime e castigo" formada por "Os Matadores", "Ação Entre Amigos" (1998) e "O Invasor" (2001) .

Para além de ser o fecho de um projeto de longa data, "Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios" é o quarto filme de outra fase de trabalho do trio, debruçada sobre as relações amorosas - caso de "Crime Delicado" (2005), o citado "Cão sem Dono" e "O Amor Segundo B. Schianberg" (2010), originalmente feito como série de TV.

Em todos os filmes de Brant, Marçal Aquino esteve no roteiro, sendo vários deles adaptações de textos seus. Curiosamente, esse novo trabalho marca a primeira vez que Brant efetivamente transpõe um romance do autor - antes foram contos e novelas.

"A gente vinha de uma vibração de violência que culminou em ‘O Invasor’. Em seguida, quisemos procurar outros caminhos e buscamos a intimidade das pessoas", define Renato Ciasca. No caso de "Eu Receberia...", o livro pareceu, aos realizadores, reunir uma mescla da primeira com a segunda fase de suas carreiras. "Esse livro estava completo dentro de tudo. Tem a história de amor, tem a intimidade, tem a violência e tem a questão política".

Paixão. Originalmente, a política estava presente no romance pela relação do protagonista - o fotógrafo Cauby, de passagem pelo interior do Pará num momento delicado socialmente - com as disputas do garimpo na região. No intuito de atualizar o enredo, decidiu-se por modificar o embate: dentro do filme, o que se enfrenta é o desmatamento de florestas na Amazônia.
Mas o que segue como verdadeiro atrativo de "Eu Receberia..." é o que já estava no livro: o ardente relacionamento entre Cauby (Gustavo Machado) e Lavínia (Camila Pitanga), e o estranho triângulo que se forma com o marido dela, o pastor Ernani (Zecarlos Machado).

Em tórridas cenas de sexo, a paixão do casal central se explicita na tela, assim como a derrocada do envolvimento, marcado por mistérios e também pela instabilidade de Lavínia. Entre cenas contemplativas da natureza, saltos temporais, olhares lascivos e tensão, "Eu Receberia..." modifica bastante o romance de Aquino, mas mantém sua essência de ser um mergulho passional perturbador.

*Publicado em "O Tempo" no dia 13.10.2011

Um comentário:

Ailton Monteiro disse...

O título por si só já é um sucesso! Se o filme for pelo menos próximo do que foi CÃO SEM DONO, pra mim já está bom demais!

Mas faltou vc dizer se gostou ou não do filme, Marcelo!