quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Simone Spoladore

A atriz curitibana Simone Spoladore, 33 anos, vai ser homenageada no final de janeiro de 2013 na 16ª  Mostra de Cinema de Tiradentes. Em fevereiro de 2010, escrevi o perfil abaixo para o jornal "O Tempo" e republico aqui aproveitando o ensejo. 

Para uma artista que se define como alguém em constante inquietação, os longos silêncios que antecipam as respostas de Simone Spoladore às perguntas feitas pelo repórter parecem não combinar com sua forma de se apresentar. Herança da origem paranaense? Na verdade, um pouco de cada coisa: Simone é uma atriz que pensa muito antes de se envolver num projeto, e só se envolve nos projetos que escolhe por causa da sua propalada inquietação.

"É algo que não se resolve nunca [na minha personalidade], e fico lidando com isso, tentando me acalmar, mas sempre procurando coisas novas", diz ela, em conversa por telefone direto de Curitiba, onde passa o restante desta semana descansando com a família.

O tempo será pouco para o tanto de trabalhos com os quais Simone, aos 31 anos de idade, tem se envolvido. Nos últimos meses, ela pôde ser vista em três filmes, uma peça de teatro e uma novela. Muito em breve, estará em outra peça e outros dois filmes, fora a novela "Bela, a Feia", na Record, que segue até maio.

Uma efervescência coerente à trajetória desta atriz que completa, em 2010, redondos 15 anos de carreira. O marco de sua caminhada, após experiências informais com balé, é a peça de teatro "Meno Male", de Juca de Oliveira, feita quando ela tinha 16. "Foi o primeiro trabalho pelo qual recebi algum dinheiro", brinca.

De lá até aqui, Simone se tornou uma espécie de musa da amargura. Após extenso currículo nos palcos (nunca interrompido, aliás), ela estreou no cinema com "Lavoura Arcaica", filmado em 1998 e apenas exibido a partir de 2001. Foi escolhida pelo diretor Luiz Fernando Carvalho entre outras 700 candidatas ao papel de Ana, personagem angustiada do livro de Raduan Nassar. O filme também lhe serviu de primeira experiência fora de Curitiba - Simone estava em São Paulo estudando atuação quando soube dos testes. Toda a preparação para fazer a Ana me fez mergulhar muito intensamente no cinema, que sempre foi minha grande paixão", conta.

Antes de "Lavoura...", porém, pôde ser vista na série televisiva "Os Maias", apresentada na Globo e na qual a atriz participava da primeira fase da história de Eça de Queiroz. Ela fazia a oportunista Maria Monforte, figura-chave da tragédia criada pelo escritor português. Na direção, novamente Luiz Fernando Carvalho, de quem Simone se tornou namorada por algum tempo - relação pessoal sobre a qual ela é profundamente discreta.

Simone Spoladore é muito convicta de que toda aquela fase ainda tateante da carreira foi primordial para a maturidade que ela acredita ter alcançado hoje - e, ironicamente, ela se vê muito próxima como o que era há 15 anos. "A Simone de ontem é bem parecida com a de hoje", constata. "No meio do caminho eu precisei passar por um processo de adaptação, mudar de cidade, lidar com vários detalhes da profissão. Depois de tudo, me sinto mais perto do frescor daquele começo, de todo o prazer, até de uma certa ingenuidade, no sentido positivo do termo".

A mudança foi de Curitiba para São Paulo e depois Rio de Janeiro, em definitivo (após "Os Maias" e no intuito de fazer a novela "Esperança"). Mas ela não se diz muito satisfeita na capital carioca. "Ainda tenho dificuldades, não consigo me adaptar bem ao Rio", assume. "Penso em me mudar para São Paulo, mas antes talvez faça uma viagem ao exterior depois que acabar a novela".

Ela não sabe explicar o porquê de não se adequar ao Rio. De novo: seria herança da natureza mais reservada do paranaense, em choque com o tropicalismo exacerbado dos cariocas? Fato é que, mais uma vez ironicamente, a curitibana inquieta se mostra outra vez desassossegada com qualquer comodismo.

Acostumada a personagens intensos, sofridos, doloridos, Simone Spoladore tem se divertido ao interpretar Verônica, a cartunesca vilã da novela “Bela, a Feia”, na TV Record. “Nunca tinha feito comédia na televisão e estou adorando a experiência. É bom rir em cena”, afirma ela, que ainda tem sutis ressalvas à TV. “Estou aprendendo a gostar”.

A voz da atriz se empolga de verdade ao falar de teatro e cinema. Tanto que ela não consegue apontar qual dos dois prefere, ainda que demonstre pender para o audiovisual. Não à toa, Spoladore poderá ser vista em ao menos quatro filmes ao longo de 2010. Três deles têm sido exibidos em festivais mundo afora: “Natimorto”, de Paulo Machline, no qual contracena com o escritor Lourenço Mutarelli (autor do livro adaptado por Machline); “Insolação”, no qual retoma, via cinema, parceria com o dramaturgo Felipe Hirsch, aqui acompanhada de Daniela Thomas na direção; e “Elvis e Madona”, comédia de Marcelo Laffitte na qual Spoladore é uma lésbica que se apaixona por um travesti.

“São personagens muito diferentes em filmes totalmente distintos”, destaca a atriz, sem temor de uma eventual superexposição. Tanto é que ela já se prepara para voltar a um set de filmagem, a partir de 7 de março, quando vai integrar o elenco de “Nove Crônicas para um Coração aos Berros”, estreia na direção de longas do brasiliense Gustavo Galvão.

Antes disso, Spoladore poderá ser vista em “Luz nas Trevas – Revolta de Luz Vermelha”, filmado no ano passado por Helena Ignez e Ícaro Martins a partir de um roteiro de Rogério Sganzerla. “É uma participação pequena, faço uma perua, esposa do personagem do Sérgio Mamberti”, adianta.

No teatro, Spoladore fez, no ano passado, seu primeiro projeto autoral. “Louise/Valentina” surgiu de conversas suas com o colega Felipe Vidal, inspiradas pela personagem de quadrinhos Valentina, criação do italiano Guido Crepax, e pela atriz norte-americana Louise Brooks (1906-85). “Entramos na sala de ensaios só com um pré-roteiro e criamos o espetáculo lá dentro”, relembra.

Apresentado no Rio de Janeiro, o monólogo de “Louise/Valentina” integra dança, artes visuais, cinema e HQs e ainda deve percorrer outras cidades do país. Enquanto aguarda definições, Spoladore estará no Paraná, no Festival de Teatro de Curitiba, com a peça “Não Sobre o Amor”, dirigida novamente por Felipe Hirsch.



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